Alunos do Intelectual, abordam em seminário sob orientação da Profa. Daguia (História) a importância da sociedade do açúcar para o Brasil Colônia e a influência desse bem de consumo para a economia brasileira e o legado deixado pela tradição dos engenhos e das casas grandes.
A sociedade da região açucareira dos séculos XVI e XVII era composta,
basicamente, por dois grupos. O dos proprietários de escravos e de
terras compreendia os senhores de engenho e os plantadores independentes
de cana. Estes não possuíam recursos para montar um engenho para moer a
sua cana e, para tal, usavam os dos senhores de engenho. O outro grupo
era formado pelos escravos, numericamente muito maior, porém quase sem
direito algum. Entre esses dois grupos existia uma faixa intermediária:
pessoas que serviam aos interesses dos senhores como os trabalhadores
assalariados (feitores, mestres-de-açúcar, artesãos) e os agregados
(moradores do engenho que prestavam serviços em troca de proteção e
auxílio).
Ao lado desses
colonos e colonizados situavam-se os colonizadores: religiosos, funcionários e comerciantes.
A
sociedade açucareira era patriarcal. A maior parte dos poderes se
concentrava nas mãos do senhor de engenho. Com autoridade absoluta,
submetia todos ao seu poder: mulher, filhos, agregados e qualquer um que
habitasse seus domínios. Cabia-lhe dar proteção à família, recebendo,
em troca, lealdade e deferência. Essa família podia incluir parentes
distantes, de status social inferior, filhos adotivos e filhos
ilegítimos reconhecidos. Seu poder extrapolava os limites de suas
terras, expandindo-se pelas vilas, dominando as Câmaras Municipais e a
vida colonial. A casa grande foi o símbolo desse tipo de organização
familiar implantado na sociedade colonial. Para o núcleo doméstico
convergia a vida econômica, social e política da época.
A
posse de escravos e de terras determinava o lugar ocupado na sociedade
do açúcar. Os senhores de engenho detinham posição mais vantajosa.
Possuíam, além de escravos e terras, o engenho. Abaixo deles situavam-se
os agricultores que possuíam a terra em que trabalhavam, adquirida por
concessão ou compra. Em termos sociais podiam ser identificados como
senhores de engenho em potencial, possuindo terra, escravos, bois e
outros bens, menos o engenho. Compartilhavam com eles as mesmas origens
sociais e as mesmas aspirações.
O fato de serem proprietários independentes permitia-lhes considerável
flexibilidade nas negociações da moagem da cana com os senhores de
engenho. Eram uma espécie de elite entre os agricultores, apesar de
haver entre eles um grupo que tinha condições e recursos bem mais
modestos.

Esses dois grupos - senhores de engenho e agricultores -, unidos pelo
interesse e pela dependência em relação ao mercado internacional,
formaram o setor açucareiro. Os interesses comuns, porém, não
asseguravam a ausência de conflitos no relacionamento. Os senhores de
engenho consideravam os agricultores seus subalternos, que lhes deviam
não só cana - de - açúcar, mas também respeito e lealdade. As esposas
dos senhores de engenho seguiam o exemplo, tratando como criadas as
esposas dos agricultores. Com o tempo, esse grupo de plantadores
independentes de cana foi desaparecendo, devido à dependência em relação
aos senhores de engenho e às dívidas acumuladas. Essa situação provocou
a concentração da propriedade e a diminuição do número de agricultores.
Existiam
também os lavradores, que não possuíam terras, somente escravos.
Recorriam a alguma forma de arrendamento de terras dos engenhos para
plantar a cana. Esse contrato impunha-lhes um pesado ônus, pois em cada
safra cabia-lhes, apenas, uma pequena parcela do açúcar produzido. Esses
homens tornaram-se fundamentais à produção do açúcar. O senhor de
engenho deixava em suas mãos toda a responsabilidade pelo cultivo da
cana, assumindo somente a parte do beneficiamento do açúcar, muito mais
lucrativa.
Nesta época, o termo "lavrador de cana" designava qualquer pessoa que
praticasse a agricultura, podendo ser usado tanto para o mais humilde
dos lavradores como para um grande senhor de engenho, conforme explica o
historiador americano Stuart Schwartz.

No século XVI o açúcar tornou-se o principal produto de exportação brasileiro. Apesar da
atividade mineradora
do século XVIII e da concorrência do açúcar produzido nas Antilhas,
essa posição manteve-se até o inicio do século XIX. Em todo esse tempo,
segundo Schwartz, "houve tanto bons quanto maus períodos e, embora o
Brasil nunca recuperasse sua posição relativa como fornecedor de açúcar
no mercado internacional, a indústria açucareira e a classe dos senhores
de engenho permaneceram dominantes em regiões como Bahia e Pernambuco."
Fonte: http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo01/soc_acucareira.html