A história da língua portuguesa!

A história da língua portuguesa é a história da evolução da língua portuguesa desde a sua origem no noroeste da península ibérica até ao presente, como línguaoficial falada em Portugal e em vários países de expressão portuguesa.

Em todos os aspectos - fonética, morfologia, léxico e sintaxe - a língua portuguesa é essencialmente o resultado de uma evolução orgânica do latim vulgar trazido por colonos romanos no Século III a.C., com influências menores de outros idiomas e com um marcado substrato céltico. O português arcaico desenvolveu-se no Século V d.C., após a queda do Império Romano e as invasões germânicas, ditas bárbaras, como um dialectoromânico, o chamado galego português, que se diferenciou de outras línguas românicas ibéricas. Usado em documentos escritos desde o século IX, o galego-português tornou-se uma linguagem madura no século XIII, com uma rica literatura. Em 1290 foi decretado língua oficial do reino de Portugal pelo rei D.Dinis I. O salto para o português moderno dá-se no renascimento, sendo o Cancioneiro Geral de Garcia de Resende (1516) considerado o marco do seu início. A normatização da língua foi iniciada em 1536, com a criação das primeiras gramáticas, por Fernão de Oliveira e João de Barros.

A partir do séc. XVI, com a expansão da era dos descobrimentos, a história da língua portuguesa deixa de decorrer exclusivamente em Portugal, abrangendo o português europeu e o português internacional. Em 1990 foi firmado um tratado internacional com o objetivo de criar uma ortografia unificada, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, assinado por representantes de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe.


Proto-história (séc. III a.C.- séc. XII)


Recentes Estudos sugerem que o substrato linguístico dominante no ocidente peninsular possui forte relação com as línguas antigas do Próximo Oriente, como o ugarítico, o acádio, o hebraico antigo ou o assírio. É possível que essa língua tenha acompanhado os povos que migraram ao longo do Mediterrâneo ao longo de milhares de anos desde o Neolítico. Tanto a toponímia, como a própria língua portuguesa (bem como a castelhana, a catalã, e provençal) parecem mostrar essa relação[1]. Curiosamente já no século XIX o Cardeal D. Francisco de S. Luiz Saraiva (conhecido popularmente por "Cardeal Saraiva"), publicou um trabalho intitulado: Glossário de Vocábulos Portuguezes Derivados de Línguas Orientaes e Africanas Excepto a Árabe, em que se demonstrava que muitas palavras do português encontram paralelo no hebraico antigo no caldaico e mesmo no persa. Contudo este conhecimento foi ignorado, tendo-se retomado a tese da impossibilidade de encontrar a língua do povo que foi colonizado pelos romanos. Também no final do século XX, Moisés Espírito Santo publicou vários e assinaláveis estudos sobre o tema, mas o meio universitário português tem sido reticente à mudança de paradigma. A visão tradicional, geralmente reproduzida, é fortemente latinista e quase ignora totalmente a língua falada pelo povo que foi conquistado por Roma. Os textos que se seguem, seguem essa linha de pensamento, estando portanto em desacordo com as ideias mais recentes.

O português tem um substrato céltico/lusitano,[2] originado nas línguas faladas pelos povos pré-romanos que habitavam a parte ocidental da península. Várias escritas testemunham a existência de línguas paleo-hispânicas. Em Portugal destaca-se a escrita do sudoeste dos séculos VII e V a.C. no Baixo Alentejo e Algarve. Não há acordo entre os especialistas sobre a origem destes sistemas de escrita, que poderá estar no alfabeto fenício ou no alfabeto grego, provavelmente relacionados com os contactos comerciais destes povos.

Da língua lusitana, uma língua indo-europeia céltica [3][4] ou relacionada falada entre o Douro e o Tejo, apenas se conhecem cinco inscrições tardias em alfabeto latino, incluindo as de Cabeço das Fráguas[5], a inscrição do Penedo de Lamas[6] e de Arronches.[7] Da língua galaica,[8] também uma língua céltica[9][10] ou um grupo de línguas e dialetos aparentados com o celtibero, conhecem-se numerosas palavras e frases curtas registadas em inscrições latinas de Oviedo e Mérida, ou glosadas por autores clássicos, que permanecem até hoje para nomear locais, rios ou montanhas. Após séculos de contacto com o latim estas línguas foram absorvidas, [11] mas deixaram a sua marca num dialecto determinante na evolução das línguas portuguesa e galega.

A influência celta na língua portuguesa [12] pode ser detectada em várias centenas de palavras como abrunho, barra, bico, vidoeiro, bilha, borba, braga, brio, cais, caminho, camisa, canga, canto, carro, cerveja, choco, colmeia, crica, curro, embaixada, gorar, légua, lousa, menino, minhoca, peça, rego, tojo, tranca, vassalo,[13] manteiga e tona (galaico-português: pele, odre);[14] os topónimos de origem céltica em Portugal destacam-se pelo elemento "briga", que significa “fortaleza”, com em Conímbriga, Arcóbriga (antigo nome de Arcos de Valdevez), Lacóbriga (antigo nome da cidade algarvia de Lagos) e Brigantia (Bragança); o elemento "dunum", que significa “cidade” e surge no topónimo Caladunum (cidade antiga em Trás-os-Montes); frequentemente é também considerada de origem celta a etimologia do nome Portugal, de Portus Cale, sendo Cale um desenvolvimento de "Gall-", com a qual os Celtas se referiam a si próprios (como em "Galiza", "Gália", "Galway") e o do rio Douro (Durus em latim), do celta "dwr", que significa água.[15]
 
O latim: base linguística (III a.C - V d.C)

Em 218 a.C, os romanos iniciaram a invasão da península ibérica, onde viriam a fundar a província romana da Lusitânia, atual centro e sul de Portugal. Quase 200 anos depois, terminadas as guerras Cantábricas, foi constituída a Galécia, atual norte de Portugal e Galiza.

A romanização afetou muitas áreas da vida, incluindo a língua. O latim, língua oficial do Império Romano, passou a ser usado na administração. A sua versão coloquial, o latim vulgar falado em todo o império, [16] foi difundido por soldados, colonos e mercadores vindos de várias províncias e colónias romanas. Estes estabeleceram-se em cidades perto de povoações nativas, mantendo frequentemente os mesmos nomes.

Falar latim era mais um privilégio do que um dever, e começou pelas camadas mais altas da sociedade, que tinham de lidar com a administração romana.[17] A evolução do latim no território correspondente a Portugal ocorreu a dois ritmos:[18] no centro e sul, na Lusitânia, foi adaptado cedo, acompanhando a rápida romanização e maior cosmopolitismo. A norte, na região da Galécia, a tardia romanização, o carácter rural e o isolamento resultaram numa menor assimilação cultural e linguística, que levou ao desenvolvimento de uma variedade de latim com influências da língua galaica.[19][20] A adesão ao cristianismo, introduzido nas cidades da Hispânia a partir do século I e tornado religião oficial do império em 380 pelo imperador hispano Teodósio I, contribuiu para popularizar o latim.

O uso das línguas paleo-ibéricas foi decrescendo, primeiro através do bilinguismo nos centros de ocupação romana, depois limitando-se às regiões isoladas. As línguas pré-romanas nativas acabaram por desaparecer, [21] mas supõe-se que o seu contacto com o latim contribuiu para o desenvolvimento de diversos dialetos nas diferentes regiões da Hispânia. Mesmo a elite educada de hispano-romanos parece ter tido um sotaque peculiar: entre outros, o imperador Adriano, de origem bética, foi alvo de riso ao discursar no senado romano pelo "pronuntians agrestius", um sotaque rústico que o levou a aperfeiçoar o latim.[22][23]

Para alguns autores o fato da Lusitânia e Galécia estarem incluídas na Hispânia Ulterior (a "Hispânia afastada" na primeira divisão da península), sob influência da Bética, uma província antiga colonizada pela aristocracia senatorial, explica o latim conservador, que preservou formas arcaicas (como "pássaro"/"pájaro" (passer) e "comer" (comedere) em vez de formas latinas mais recentes ave (avicellus) manger/mangiare (manducare), e que pode explicar parte das diferenças entre o castelhano e o português.[24] Um dos fenómenos mais antigos nesta diferenciação é a "troca dos b pelos v", ou betacismo[25], provavelmente sob a influência das línguas pré-romanas, com o /v/ muito mais usado no português. No latim clássico não existia o actual som [v]: "via" pronunciava-se "uia" (semelhante ao W inglês). A partir do século I o latim vulgar transformou o /w/ em /β/, que se manteve no espanhol, e que evoluiu para /v/ no português. Exemplos antigos de betacismo incluem a grafia de Nabia/Navia, deusa da mitologia galaica e lusitana. [26]

O processo de diferenciação dos dialetos que levou ao desenvolvimento de diversos traços individuais das línguas ibero-românicas terá ocorrido ainda no período romano.[27][28][29] Origem de todas as línguas românicas, o latim terá contribuido para quase 90% do léxico do português. 
Click aqui  Para saber +
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_l%C3%ADngua_portuguesa